quarta-feira, 29 de março de 2017

Procedimentos para primeira guarnição no incêndio

Existem diversas abordagens para ocorrências de incêndio, como por exemplo o método SLICE-RS, já apresentado neste blog.

Entretanto, os métodos não detalham os procedimentos a serem adotados pela primeira guarnição que chega à cena.


É muito comum que o primeiro caminhão de combate a incêndio conte somente com um motorista e dois bombeiros, às vezes até um bombeiro. E os recursos - como materiais e água - costumam ser limitados.

Portanto, as ações tomadas por esta equipe influenciam muito a evolução da ocorrência.

Nota 1: este post é uma sugestão de procedimentos, baseado nos métodos já conhecidos, juntamente com experiência própria.

Nota 2: para efeitos didáticos, neste post estou abordando somente as edificações residenciais e comerciais (casas, sobrados, prédios, etc).

Considerações iniciais:

Uma dificuldade inicial da primeira equipe na cena é controlar a população curiosa, ou mesmo pessoas tentando apagar o incêndio.

Por experência própria - e contrariando algumas metodologias - recomendo não perder tempo tentando isolar a área. Sua equipe precisa definir prioridades e, neste momento, há outras mais importantes.

Existem basicamente dois cenários em um incêndio em edificação: com ou sem vítimas presas.

Chegando à cena, procure pelos proprietários ou vizinhos para assegurar que não há vítimas presas à edificação. Só se deve realizar uma busca primária se houver confirmação ou indícios de que há vítimas.

Procure desligar a energia elétrica rapidamente. Se houver ligação irregular ("gato"), só corte as fiações com uso de luvas de alta tensão.

Um ponto crucial é iniciar o combate o quanto antes, mesmo que seja apenas para proteger o que ainda não queimou. O fato de jogar água no incêndio tranquiliza a população e faz com que dêem o devido espaço para sua equipe trabalhar.

Controle o gasto de água para que não falte até a chegada de apoio. Se for possível atacar diretamente o foco do incêndio e extingui-lo, faça-o.

Se o incêndio já tiver grandes proporções, proteja o que não queimou, bem como reduza a temperatura dos gases internos.

Para tanto, não use jatos contínuos, que consumirão muita água. O objetivo aqui não é apagar o incêndio, mas sim tentar evitar que se alastre.

Cenário 1: sem vítimas presas na edificação:

Se não houver vítimas presas, a prioridade da equipe é proteger as áreas que ainda não queimaram - sejam na própria edificação ou em edificações vizinhas.

Como a equipe geralmente trabalha com um ou dois bombeiros, não se recomenda fazer o combate interno até que uma segunda guarnição chegue à cena.

Antes de iniciar o combate, recomenda-se que um bombeiro faça uma avaliação 360o (se possível) na edificação, procurando por eventuais riscos, fluxos de gases, entrada e saída de ar/fumaça, foco do incêndio, possíveis acessos, fiação elétrica e edificações próximas.

Conforme já mencionado, se for possível atacar diretamente o foco do incêndio e extingui-lo, prossiga. Se o incêndio já tiver grandes proporções, concentre-se em proteger o que ainda não queimou. O que está queimando já está condenado.

Atentar também para a possibilidade de flashover e backdraft ao se realizar aberturas de portas e janelas. Aplique água o quanto antes para reduzir a temperatura dos gases internos e evitar estes fenômenos.

Com a chegada de apoio, o motorista da primeira guarnição deve reportar a situação ao chefe da equipe, para que este possa definir os próximos passos.

Cenário 2: com vítimas presas na edificação:

Se houver vítimas presas na edificação, a prioridade é retirá-las de lá. Para tanto, a equipe mínima necessária é de um motorista e dois bombeiros.

Procure por moradores ou vizinhos para coletar indícios de onde poderiam estar as vítimas, de forma a otimizar sua busca. Lembre-se que há lugares mais propícios para se encontrar vítimas, tais quais banheiros, armários, embaixo de camas e de escadas.

Recomenda-se adentrar a edificação munido de uma linha de ataque pressurizada, de forma a resfriar o ambiente (reduzindo o risco de flashover e backdraft), abrir passagem para chegar às vitimas e ter um guia para escape, caso a situação se deteriore.

Note que o objetivo nesta etapa não é proteger o que não queimou nem apagar as chamas, mas sim fazer uma busca primária para encontrar as vítimas e extraí-las o mais rápido possível.

Realizada a busca primária, encontrando e extraindo as vítimas, deve-se prosseguir como no caso anterior.

Nota: se a equipe efetou a busca primária - que deve durar poucos minutos - e não encontrou nenhuma vítima em nenhum ambiente, deve-se proceder com o combate e, ao final, executar a busca secundária.

Neste caso, com a chegada de apoio e do chefe da equipe, o motorista deve reportar imediatamente a presença de dois bombeiros no interior da edificação, para que o mesmo possa tomar as devidas providências para assegurar sua segurança.

O chefe da equipe pode optar por enviar mais bombeiros - sempre em duplas - para auxiliar e acelerar as buscas. Tudo dependerá dos recursos - pessoas e materiais - disponíveis.

Até a próxima!

Um comentário:

  1. Parabéns pelo artigo. Assunto de grande relevância. Abraços
    http://www.realfire.com.br

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