quarta-feira, 8 de março de 2017

Método SLICE-RS

Já ouviu falar no método SLICE-RS?

Em 2014 foi apresentado um estudo conjunto de dois anos realizado pela ISFSI (International Society of Fire Service Instructors), UL (Underwriters Laboratories), NIST (National Institute of Standards and Technology) e as empresas Honeywell e Scott Safety.

O intuito foi ajustar e atualizar as práticas, táticas e treinamentos de combate a incêndio, para criar um ambiente mais seguro tanto para os bombeiros quanto para a comunidade.

Como resultado, chegou-se ao método SLICE-RS. Este acrônimo significa:
  • S = Size up (dimensionar a cena)
  • L = Locate the fire (localizar o fogo)
  • I = Identify and control the flow (identificar e controlar o fluxo de gases)
  • C = Cool from a safe location (resfriar de um local seguro)
  • E = Extinguish the fire (extinguir o fogo)
  • RS = Rescue & Salvage (busca e salvamento)

O método não é obrigatório, mas sim uma recomendação de atualização de práticas nas corporações.

Temos que entender que, principalmente nos EUA, os métodos de combate a incêndio são muito mais agressivos, combatendo o fogo "de dentro para fora" da edificação. As operações de busca e salvamento são realizadas muitas vezes sem se estar atacando o foco do incêndio.

Além disso, como mencionado no post sobre ventilação tática (link), a técnica de ventilação vertical, tão difundida por lá, não é eficaz como se pensava. De fato, até piora a situação se água não estiver sendo aplicada no foco do incêndio.



No Brasil, de forma geral, trabalhamos com combate defensivo, buscando aplicar água logo no começo da operação. Mesmo não tendo prévio conhecimento do método, estamos alinhados com o SLICE-RS.

Um dos motivos do estudo foi a rápida evolução dos incêndios modernos, devido principalmente ao uso extensivo de materiais sintéticos.

Com isso, demonstrou-se que jogar água cedo no fogo, mesmo do lado de fora de uma edificação, melhora substancialmente a condição do ambiente, reduzindo a temperatura dos gases superaquecidos e protegendo as vítimas e os bombeiros.

Mesmo o risco de geração de vapor aquecido de água é muito menor do que o risco de estar exposto a altas temperaturas.

Também concluiu-se que qualquer abertura constitui ventilação, e ventilação sem água só faz aumentar a temperatura interna (pois alimenta o fogo).

Vamos ao método!

Size up (dimensionar a cena):
  • Sempre que possível realizar uma avaliação 360o na edificação.
  • Avaliar condições climáticas, direção do vento, onde o fogo está e para onde está indo, fluxos de gases, possível presença de vítimas presas na edificação, etc.

Locate the fire (localizar o fogo):
  • Procurar por chamas vísiveis ou saída de fumaça.
  • Avaliar condições da fumaça, como direção, densidade e velocidade.
  • Usar câmera térmica se disponível.

Identify and control the flow (identificar e controlar o fluxo de gases):
  • Identificar se o incêndio é do tipo ventilação limitada (muita fumaça do chão ao teto, poucas ou ausência de chamas) ou não.
  • Identificar fluxos bidirecionais e unidirecionais (link).
  • Avaliar plano neutro (link).
  • Controlar aberturas. Lembre-se: qualquer abertura de portas ou janelas já configura ventilação, e só deve ser realizada se água puder ser jogada no foco do incêndio.
  • Se água não puder ser aplicada, feche portas e janelas para controlar o fluxo (link).

Cool from a safe location (resfriar de um local seguro):
  • Pode ser do lado de fora ou de dentro da edificação (desde que seja seguro).
  • Se for do lado de fora, usar preferencialmente jato sólido e jogar água na fumaça. A ideia é resfriar os gases superaquecidos, não apagar o fogo.


Extinguish the fire (extinguir o fogo):
  • Garantidas condições seguras para adentrar a edificação, atacar o foco do incêndio.
  • Realizar busca, caso ainda não tenha sido realizada.
  • Fazer o rescaldo.

Rescue & Salvage (busca e salvamento):

São consideradas ações de oportunidade, pois dependem da possibilidade de haver ou não vítimas presas na edificação.

O resgate das vítimas é sempre prioridade mas, de acordo com esta nova abordagem, a busca primária somente será realizada se houver indícios ou confirmação de vítimas dentro da edificação.

Se, ao chegar na cena, os moradores confirmarem que todos saíram da edificação, a operação de busca deve ter uma prioridade inferior, sendo realizada somente junto à etapa de extinção das chamas.

Isto garante a segurança dos bombeiros, pois nesta etapa já não há mais risco de ser pego por um fluxo unidirecional e/ou pelos fenômenos do fogo (flashover, backdraft).

Entretanto, havendo possibilidade de vítimas, a operação de busca e salvamento deve ser priorizada e realizada em paralelo às demais.

Se não houver equipe suficiente para tal e a primeira guarnição na cena tiver que realizar a operação, uma alternativa é que o motorista do caminhão de combate a incêndio efetue, pelo lado de fora, o resfriamento dos gases superaquecidos no interior da edificação.

O simples fato de jogar água nos gases fará com que a temperatura interna caia e evitará que os bombeiros em busca e salvamento, bem como as vítimas, sofram queimaduras ou até a morte.

Para a equipe de busca e salvamento, não esquecer de fechar portas e janelas para bloquear os fluxos!

Conclusões

O método SLICE-RS é uma recomendação para as primeiras equipes que chegarem à cena. 

Dimensionada a cena, localizado o foco do incêndio, identificado e controlado o fluxo, reduzida a temperatura dos gases superaquecidos e iniciada a extinção, os riscos estão controlados e pode-se prosseguir normalmente com a ocorrência, até o completo rescaldo.

Para finalizar, o vídeo abaixo é um resumo do método (somente em inglês):



Até o próximo post!

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