quarta-feira, 22 de março de 2017

Busca primária e secundária

Em caso de indício ou confirmação de vítima presa em uma edificação, os bombeiros terão de realizar uma busca.

Existem dois tipos de busca: primária e secundária.

Busca primária:

Consiste numa busca rápida realizada antes ou durante as operações de combate a incêndio.

É feita geralmente por uma dupla de bombeiros experientes, com uso de tato, ferramentas manuais como chave Halligan e machado de arrombamento (de forma a aumentar o alcance) e, se disponível, câmera térmica.


O objetivo dessa busca é varrer o mais rápido possível a maior área em uma edificação e, se for encontrada uma vítima, retirá-la rapidamente do local (seja via arrasto ou por escada externa).

Se for um incêndio em edifício (prédio), deve-se começar pelo apartamento onde está o foco do incêndio e prosseguir para os demais apartamentos no mesmo andar.

Se as chamas já se espalharam por vários andares, repetir o procedimento nestes.

Os lugares mais comuns onde vítimas se abrigam são: banheiros, armários, debaixo de camas e debaixo de escadas. O uso de ferramentas ajuda a alcançar pontos de difícil acesso.

A atividade geralmente é feita com visibilidade prejudicada ou nula, o que a torna mais perigosa. Ela só deve ser realizada caso haja indício ou confirmação de vítima presa na edificação.

Outro ponto importante para os bombeiros é atentar para possíveis mudanças no plano neutro e no fluxo de gases (bidirecional para unidirecional), buscando abrigo (um quarto com uma porta fechada já ajuda) caso necessário.

A busca primária pode ser realizada antes ou durante o combate. Se realizada antes, cuidado, pois a falta de uma mangueira como guia pode fazer os bombeiros perderem o referencial de entrada/saída.

Dica 1: escolha um lado para começar as buscas e mantenha uma das mãos sempre em contato com as paredes desse lado. Exemplo: sou destro e opto por começar as buscas pela esquerda, em sentido horário, de forma que minha mão direita esteja sempre livre para varrer o ambiente.

Dica 2: use um cabo (de 50m por exemplo) como guia, amarrando-o ao EPR do primeiro bombeiro. O segundo bombeiro prende um mosquetão ao seu EPR e passa o cabo por dentro do mesmo, mantendo-o livre para correr pelo cabo, de forma a tê-lo como guia, mas não se limitando a ele.

Dica 3: quando entrar em um ambiente, pode-se deixar uma lanterna ligada no chão, próximo à porta, de forma a ter uma referência visual da saída. Mesmo com visibilidade nula, o brilho da lanterna será notado.

É importante que os dois bombeiros mantenham contato físico e/ou verbal o tempo todo.

Se a busca for realizada durante o combate, a própria linha de ataque serve como guia em caso de evacuação de emergência. Mas, nesse caso, deve-se progredir rapidamente na edificação e realizar a busca em paralelo.

Exemplo: o bombeiro no esguicho avança com a linha de ataque nos ambientes, resfriando os gases superaquecidos, enquanto o auxilar realiza as buscas.

O foco aqui não é apagar as chamas, mas realizar a busca.

Dica 4: use a menor quantidade de água possível para evitar que muito vapor seja gerado, prejudicando a visibilidade. Pulsos de jato em neblina são a melhor opção.

Finalizada a busca primária, pode-se prosseguir com o combate.

Veja abaixo alguns vídeos com exemplos de busca primária. O primeiro é um treinamento:



Agora veja na prática como funciona:



E em uma situação com vítimas presas na edificação:



Busca secundária:

Consiste em uma busca minuciosa e mais lenta, em todos os ambientes, realizada:
  • Quando a extinção e ventilação estão finalizadas.
  • Quando o incêndio está sob controle.
  • Durante operações de rescaldo.

O objetivo é garantir que ninguém seja esquecido (com ou sem vida).

Preferencialmente, deve ser realizada por bombeiros que não participaram da busca primária, devido à exaustão dessa atividade.

Mesmo em um incêndio sem indício ou confirmação de vítimas presas, quando se opta por não realizar uma busca primária e ir direto ao combate, a busca secundária é obrigatória.

Dica: aproveite essa etapa para entender e aprender com a situação. Como o incêndio começou? Como ele evoluiu? Como a abertura de portas/janelas e a ventilação influenciaram? Usamos mais água do que o necessário? Havia vítimas, e onde estavam? Quais as dificuldades encontradas nas buscas?

Para finalizar, a busca primária é uma atividade de alto risco para os bombeiros, e a segunda maior causa de morte de bombeiros nos EUA (dados NFPA), seja por colapso de estruturas, seja por rápida progressão das chamas.

Portanto, treinamento é fundamental. Apenas bombeiros treinados devem executar buscas primárias. 

Até o próximo post!

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