segunda-feira, 10 de abril de 2017

Incêndios em indústrias

Incêndios em indústrias são possivelmente os mais perigosos para os bombeiros, pois existe uma infinidade de materiais combustíveis, com diferentes potenciais explosivos e que demandam agentes extintores distintos.


Porém, podemos simplificar os incêndios em duas categorias principais:

1- Empresas de médio/grande porte, estruturadas, com brigada de incêndio, responsáveis técnicos e padronização de procedimentos de emergência.

2- Pequenas empresas sem brigada, ou que só atendem a legislação no papel, ou empresas de "fundo de quintal", ou ainda irregulares / ilegais.

O motivo desta categorização se dá por conta dos diferentes procedimentos a serem adotados. 

Obviamente existem exceções - como pequenas empresas que não só seguem a lei, como vão além e são exemplos de prevenção. Mas, para fins didáticos e por experiência própria, essa categorização ilustra bem os principais cenários.

Nota: para este post, estou considerando empresas industriais, não comércios nem empresas de serviços.

Categoria 1 - empresas de médio/grande porte:


Os bombeiros geralmente só são acionados quando a situação foge ao controle dos brigadistas.

Chegando ao local, os bombeiros devem se colocar como auxiliares, e não como "donos" do processo.

Indústrias de grande porte costumam ser complexas, demandando conhecimento prévio que somente o pessoal interno detem.

Deve-se procurar identificar de prontidão que materiais estão queimando e questionar os responsáveis técnicos ou brigadistas quais os procedimentos adequados para o combate. Siga as orientações deles.

Muito cuidado ao adentrar ambientes fechados, pois a falta de conhecimento da "geografia" do local pode causar desorientação. Recomenda-se sempre estar acompanhado de alguém da empresa.

Em determinados casos, os bombeiros serão responsáveis somente pela evacuação, isolamento da área e atendimento às vítimas, cabendo ao pessoal interno especializado o combate ao incêndio.

Categoria 2 - pequenas empresas: 


Este é o pior cenário para os bombeiros. Chegando à cena, você não sabe o que está queimando, o que pode ser usado para o combate, o potencial de explosão dos materiais e se há vítimas presas.

Além disso, nem sempre existe uma reserva técnica de incêndio e hidrantes de recalque "funcionais".

Neste caso, o combate será empírico, testando alternativas para encontrar a melhor forma de combate.

Se a água não reagir com o fogo, é um bom indício de que pode-se combater com a mesma.

Caso haja reação, deve-se partir para alternativas, como LGE (líquido gerador de espuma).

Se não houver nenhum responsável pela empresa, procure por informações com vizinhos, bem como contatos dos responsáveis.

Se houver um responsável, informe-se dos materiais utilizados na empresa para identificar o melhor método de combate.

A recomendação é sempre desligar a energia elétrica, porém cuidado se houver caldeiras em operação, pois a circulação de água não deve ser interrompida. Veja neste post como proceder.

Recomenda-se evacuar a vizinhança com grandes raios, pois não se sabe de antemão se existe ou não possibilidade de explosão.

Cuidado ao adentrar a empresa. Existem diversos riscos como colapso de estruturas, explosão de materiais, desorientação, entre outros.

Em caso de dúvidas, é preferível combater externamente até ter certeza dos materiais em combustão e dos danos à estrutura.

Lembre-se: o objetivo primordial é não permitir que o fogo se alastre para edificações vizinhas - proteger o que ainda não queimou. O que está queimando já está condenado.

Se não houver um agente extintor adequado, é preferível deixar que as chamas consomam o que já está em combustão e proteger o que ainda não queimou.

Importante: se houver vítimas presas, tente retirá-las com ajuda de escadas externas. Somente adentrar a empresa se a equipe julgar que o risco está controlado.

Devemos primeiramente preservar a vida da equipe e da população no entorno da ocorrência. Cuidado para não gerar mais vítimas, nem se tornar uma!

Caso real:

Há uns 3 anos participei de um incêndio que se enquadrou na categoria 2. Era noite, não havia responsáveis pela empresa e os mesmos só chegaram ao local no rescaldo.

Tentamos combater com água, porém a mesma reagia com o fogo, formando grandes labaredas azuladas/esverdeadas.

O teto e algumas paredes internas já estavam colapsados. Optamos por realizar o combate externamente, não permitindo que o fogo se alastrasse.

Em paralelo, montamos uma linha de ataque com LGE para testar a eficácia e, felizmente, deu certo.

Com a chegada de apoio, continuamos resfriando externamente e começamos a combater internamente com LGE.

Como o teto já havia desabado, o risco de adentrar a estrutura estava controlado.

Todas as residências vizinhas foram evacuadas com um raio em torno de 100m.

O fogo foi extinto e, ao final, descobrimos que se tratava de produtos químicos para produção de espumas para colchões. Ninguém se feriu.

Até breve!

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